Educação e Sociedade em Rede
A Virtualização das Relações Sociais
A Autenticidade e a Transparência na Rede
por Rui André Pereira
As expressões “identidade digital”
e “identidade virtual” são, por vezes, consideradas como sinónimas, porém, os
pontos divergentes entre ambas são maiores que os conciliadores. Após uma
pesquisa sobre as expressões em questão vemos que a primeira consiste na
representação digital de dados exatos e verídicos de uma determinada pessoa.
Por seu lado, a identidade virtual, também designada por identidade online ou
identidade de internet, é uma identidade social, por vezes fictícia, utilizada
em comunidades virtuais.
Nesta identidade virtual, a
identificação acontece através de pseudónimos e a informação pessoal
disponibilizada por cada indivíduo é muito variável. Em algumas comunidades ou
jogos online, os participantes omitem a sua verdadeira imagem/personalidade e
criam uma nova versão de si próprios, fazendo-se rodear de características físicas
e psicológicas atrativas, dissimulando possíveis imperfeições físicas ou
relacionais que possam possuir. Esta transposição para o virtual, pode ganhar
uma nova forma através da criação/apresentação de um avatar. Este cibercorpo é
uma forma do cibernauta utilizar máscaras digitais, ignorando a sua idade,
aspeto físico, género e até mesmo aspetos relativos à personalidade. Assim, o
usuário tem um modo de ter e criar uma nova vida para si na rede, por vezes,
radicalmente diferente da realidade física.
No grande ecrã, a problemática em
torno do avatar foi já várias vezes discutida. Em 2009, no filme Surrogates de
Jonathan Mostow, apresenta uma sociedade futurista e distópica em que os seres
humanos vivem isolados nas suas casas e, cuja interação e vivência do
quotidiano são concretizadas com recurso a robôs preparados para alojar a consciência
do seu humano. Os substitutos representam seres mais perfeitos que os seus
representados, ocultando imperfeições físicas e mesmo o género. No mesmo ano,
James Cameron lança o seu filme Avatar, onde num mundo longínquo e alienígena,
para facilitar a comunicação com uma sociedade local, são criados avatares que
permitem que um humano habite um corpo geneticamente criado (semelhante aos
humanoides dessa planeta) de forma a facilitar a integração social e a
interação entre as duas espécies. Destes dois exemplos, verificamos que o
cibercorpo facilita a interação e a integração do ser humano num grupo
existente no ciberespaço.
Voltando agora à questão
principal: existe autenticidade e transparência na internet? Ao consultar os
dicionários online da Porto Editora, observamos os significados de
autenticidade (“qualidade do que é
conforme à verdade; veracidade; manifestação de sinceridade ou naturalidade”)
e transparência (“qualidade do que
transmite a verdade sem a adulterar; limpidez qualidade de quem não tem nada a
esconder; carácter do que não é fraudulento e pode vir a público”).
Desde o aparecimento e difusão da
internet até à atualidade, a comunicação social fez chegar até nós notícias de
milhares de burlas que ocorrem por este meio. Cito aqui o caso de uma senhora,
no Canadá, está a processar uma empresa de Online
Dating por ter sido obrigada a criar milhares de perfis falsos. Através da
internet, a probabilidade da ocorrência de fraudes é maior, não só devido ao constante
crescimento do número de utilizadores deste serviço, como também pelo
distanciamento, que dificulta a identificação dos cibercriminosos.
Tal como Lévy e Baudrillard
defendem, nós humanos vivemos cada vez mais nesta rede, o ciberespaço ou
hiperespaço é uma extensão do Homem e já não sabemos viver sem ele. Com os
constantes avanços tecnológicos, nomeadamente com o aparecimento da web 2.0, a
participação no mundo virtual tornou-se mais interativa, viciante e realista.
Nas redes sociais, designadamente
no facebook, o indivíduo tende a apresentar o seu verdadeiro eu: exibe o seu
nome, data de nascimento, as suas fotos, adiciona os seus colegas de trabalho,
interage com desconhecidos e torna-os em seus amigos virtuais. Assim, a vida
virtual deixa de ser um escape da realidade, mas sim um complemento da mesma,
não podendo uma existir sem a outra. Existe agora aqui uma dicotomia de princípios:
mantemos o mesmo padrão comportamental dentro e fora da rede? Deveremos
partilhar ou não todas as nossas vivências na rede? Sendo a humanidade constituída
por seres únicos, com uma consciência individual, cada um analisa o que deve
transparecer para a rede, enquanto uns vivem quase à margem, outros partilham
todas as suas alegrias e angústias. Embora haja ainda quem viva nas redes
sociais sob perfis falsos, na minha opinião, esta este número desaparecerá
gradualmente pois notamos uma naturalização comportamental na rede: a existência
na rede, como uma extensão do que existe fora dela, tende a seguir os padrões
normais da vivência em sociedade.
Podemos ainda assistir à
proliferação de fontes informativas diversas na internet que têm vindo a
conhecer melhorias na sua qualidade. Seja por motivos filantrópicos ou
publicitários, o conhecimento disponibilizado por estudiosos, investigadores e
empresas na rede tem crescido a um ritmo vertiginoso. Podemos facilmente
contabilizar inúmeros casos de plágio e de desrespeito total pelos direitos
autorais, contudo, podemos igualmente contabilizar a crescente corrente de
recursos educacionais abertos que se tem manifestado nos últimos anos.
Referências:
Baudrillard, J. (1981)
Simulacros e Simulação. Lisboa: Relógio d’Água.
http://www.infopedia.pt/pesquisa.jsp?qsFiltro=0&qsExpr=autenticidade, acedido a 10 de janeiro de 2014.
http://www.infopedia.pt/pesquisa.jsp?qsFiltro=0&qsExpr=transpar%C3%AAncia, acedido a 10 de janeiro de 2014.
http://m.jn.pt/m/newsArticle?contentId=3526409&related=no, acedido a 10 de janeiro de 2014.
Castelhano, C. (2011). O que é Identidade Virtual? Acedido a 10
de janeiro de 2014, em http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/o-que-e-identidade-virtual/52102/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Avatar_(filme), acedido a 10 de janeiro de 2014.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Avatar_(realidade_virtual), acedido a 10 de janeiro de 2014.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Surrogates, acedido a 10 de janeiro de 2014.
Lévy, P. (1999). Cibercultura.
Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34.
Nagy, Péter – 2010 - Second Life, Second Choice? The effects of
virtual identity on consumer behavior. A conceptual framework. Acedido a 10
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Tong, P. e Corrêa, R. (s/d). Identidade e Privacidade no Mundo Virtual.
Acedido a 10 de janeiro de 2014, em http://www.intercom.org.br/papers/sipec/ix/trab04.htm